quinta-feira, 4 de maio de 2017

REGRAS DE FUGA, o novo livro de Eleazar Venancio Carrias

Regras de Fuga é um coletânea de poemas escritos entre 2008 e 2015, período no qual o poeta personagem usou experiências pessoais – solidão, divórcio, depressão, bebedeiras, homoerotismo etc. – como desculpa para escrever sobre o que considera ser uma condição do homem contemporâneo: um ser permanentemente em fuga de si mesmo. Fuga duplamente impossível, porque, desde já, configura também um retorno, mas um retorno sem objeto. Imerso nessa condição absurda, o poeta personagem não deixa, porém, de entrever os momentos de beleza que, raros mas insistentes, contaminam o caos da vida mundana.

Disponível para download gratuito na Amazon, durante esta semana.
[Para ler no celular, baixe antes o app Kindle no Google Play]

 

segunda-feira, 20 de junho de 2016

JÓ SE APRESENTA



Eu sou o pescador displicente.
O cientista sem método.
O cego que encontrou o caminho da morada da luz.

Sou aquele que diz “obrigado”.
O santo que se arrepende.
O fazendeiro criador de aves –
galos que não cantam mais que três vezes na vida.

Eu sou o vento fugindo a cavalo.
/ o pescador, o cientista, o cego /
Eu sou a pergunta que Deus respondeu do meio da tempestade.


[inédito de Eleazar Venancio Carrias]

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

ROMANCE



Na primeira vez que me amou,
cortou-me a orelha esquerda.
Jurava arrancar minha vaidade:
nunca mais usa brinco.

Na terceira vez,
ele me matou
com duas facadas nos rins.
Uma promessa que nunca levei a sério.

Quando acordei de minha morte
meu corpo ainda recendia seu sexo.

[inédito de Eleazar Venancio Carrias]

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Quase a propósito de Ana Cristina Cesar e Fabrício Corsaletti


Ser publicado por uma grande editora é garantia de reconhecimento e prestígio? Pode ser. O que não significa que se publicou um livro importante.

Ganhar um prêmio literário importante significa ter escrito um texto saboroso? Não. (Em 2010, por exemplo, o poeta Fabrício Corsaletti levou o Prêmio Bravo! Bradesco Prime de Cultura por “Esquimó”, um livro – no geral – ruim.) Mas pode indicar que, no mínimo, se escreveu algo que pode ser chamado de literatura. Uma literatura ruim, mas ainda assim, literatura. O que é grande coisa, numa época em que proliferam textos pseudoliterários, especialmente na poesia.

Se todos os meus versos fossem classificados como poesia ruim – acredito que a maioria o seja – eu me daria por feliz, pelo simples fato de ter-me mantido no âmbito do poético.

Publicar “alternativamente” ou por uma pequena editora pode condenar o autor ao esquecimento ou ao não-reconhecimento do valor de sua obra? Talvez. Mas se, no futuro, ele for descoberto por algum crítico ou editor ou acadêmico renomado, esse autor terá grande chance de vir a ser cultuado e mesmo de tornar-se popular. Hilda Hilst, durante quase toda a vida, esteve à margem do mercado editorial e hoje é publicada pela editora Globo.
Veja o caso de Ana Cristina Cesar. Como pode sua literatura ainda ser referida como “marginal”, depois de integrar-se ao mainstream editorial? Sua obra acaba de sair em volume único pela poderosa Companhia das Letras. Ela é, portanto, “ex-marginal”. Marginal é o escritor que, cinco anos depois de publicar, por seus próprios esforços, o primeiro livro, ainda guarda debaixo da cama metade dos volumes impressos, porque não tem como distribuir a obra.

Imagine que um mesmo livro fosse publicado, simultaneamente, por duas editoras diferentes, uma grande, outra modesta. Mesmo autor, mesmo conteúdo, mesmo formato e igual número de páginas. Ah – capas diferentes. Sim, porque a diferença entre as pequenas e grandes editoras começa aí. Ou você acha que a editora paraense LiteraCidade, por exemplo, dispõe da mesma equipe de profissionais que a paulistana Companhia?

Quem olha para uma capa bem feita (em termos conceituais e materiais) e – mais importante – com o selo de uma editora de alcance nacional, já pressupõe que “este livro deve ser bom, senão não seria publicado pela Companhia das Letras”. Afinal, tem tanta gente querendo ser publicada por uma editora como essa.

Ser marginal já era.

Eleazar Carrias

sábado, 30 de novembro de 2013

SÁBADO



Repara como a vida é grande,
é grande e bela.
Caranguejos me ultrapassam.

Não me ames tão depressa.
Não me faças tão feliz.
Deixa eu sofrer tua falta:

A vida é grande e tão bela.
Sem esquecê-la, me abraça.

Repara os séculos no pó
dos teus sapatos novos.
– É grande e misteriosa.

Repara como a vida é grande,
na inquietude dos povos.
Caranguejos que te abraçam.


[inédito de Eleazar Venancio Carrias]