Ser publicado por uma grande
editora é garantia de reconhecimento e prestígio? Pode ser. O que não significa
que se publicou um livro importante.
Ganhar um prêmio literário importante significa ter
escrito um texto saboroso? Não. (Em 2010, por exemplo, o poeta
Fabrício Corsaletti levou o Prêmio Bravo! Bradesco Prime de Cultura por
“Esquimó”, um livro – no geral – ruim.) Mas pode indicar que, no mínimo, se escreveu algo que pode ser
chamado de literatura. Uma literatura ruim, mas ainda assim, literatura. O que
é grande coisa, numa época em que proliferam textos pseudoliterários,
especialmente na poesia.
Se todos os meus versos fossem classificados como
poesia ruim – acredito que a maioria o seja – eu me daria por feliz, pelo
simples fato de ter-me mantido no âmbito do poético.
Publicar “alternativamente” ou por uma pequena
editora pode condenar o autor ao esquecimento ou ao não-reconhecimento do valor
de sua obra? Talvez. Mas se, no futuro, ele for descoberto por algum crítico ou
editor ou acadêmico renomado, esse autor terá grande chance de vir a ser
cultuado e mesmo de tornar-se popular. Hilda Hilst, durante quase toda a vida,
esteve à margem do mercado editorial e hoje é publicada pela editora Globo.
Veja o caso de Ana Cristina
Cesar. Como pode sua literatura ainda ser referida como “marginal”, depois de
integrar-se ao mainstream editorial? Sua obra acaba de sair em volume único
pela poderosa Companhia das Letras. Ela é, portanto, “ex-marginal”. Marginal é
o escritor que, cinco anos depois de publicar, por seus próprios esforços, o
primeiro livro, ainda guarda debaixo da cama metade dos volumes impressos,
porque não tem como distribuir a obra.
Imagine que um mesmo livro fosse publicado,
simultaneamente, por duas editoras diferentes, uma grande, outra modesta. Mesmo
autor, mesmo conteúdo, mesmo formato e igual número de páginas. Ah – capas
diferentes. Sim, porque a diferença entre as pequenas e grandes editoras começa
aí. Ou você acha que a editora paraense LiteraCidade, por exemplo, dispõe da
mesma equipe de profissionais que a paulistana Companhia?
Quem olha para uma capa bem feita (em termos
conceituais e materiais) e – mais importante – com o selo de uma editora de
alcance nacional, já pressupõe que “este livro deve ser bom, senão não seria
publicado pela Companhia das Letras”. Afinal, tem tanta gente querendo ser
publicada por uma editora como essa.
Ser marginal já era.
Eleazar Carrias